O melhor que o Porto tem?

Fecho os olhos e percorro mentalmente a minha cidade, deixando-me guiar “da Ribeira até à Foz” como que em busca do melhor que o Porto tem.

“O mar!”, é logo o que me vem à cabeça, mas isso é a mim, que sou uma apaixonada pelo mar e dificilmente viveria numa cidade sem mar.

Ponho de lado esse meu pensamento tão intrínseco e pessoal para conseguir chegar a uma resposta mais geral, uma resposta que me faça perceber este bom momento que o Porto está agora a atravessar, e que atrai os outros, os turistas, os de fora.

Passo a visualizar o rio, esse Douro que atravessa as pontes em fotografias que se eternizam, penso nas ruelas estreitas e nos candeeiros que as iluminam, penso na luz do Porto que dizem triste, nas varandas com flores em Miragaia e na Ribeira e na roupa branca pendurada, penso nos telhados laranja e nas paredes amarelas, e em tantas outras imagens típicas e ilustradas em postais: a Torre dos Clérigos, a Casa da Música, a Sé e os azulejos, o miradouro das Virtudes, as praias da Foz, o parque da cidade….tudo tão bonito.

Mas o melhor do Porto será um local, seja ele público ou mesmo um dos nossos refúgios? Eu sei, os locais fazem-nos sentir bem, e isso pode sempre ser uma boa razão para gostarmos da cidade onde estamos ou moramos. Mas é pouco. O melhor do Porto não se pode cingir a um lugar, ou a lugares….

Foco-me então em coisas mais dinâmicas, mais palpáveis, penso em comida, e no Porto come-se tão bem…. as francesinhas, o bacalhau com broa ou as sardinhas assadas, os pregos no pão e no prato com o ovo a cavalo, as sandes de pernil ou os rojões, e as doses desmesuradas com que somos servidos, os pastéis de nata ou o creme queimado na altura….

Será? O melhor do Porto a comida? ……e claro que quem fala em comida fala na excelência dos nossos vinhos, fala em vinho do Porto, fala nas caves, na outra margem…

Tudo isto junto conta, eu sei. E já aqui vão vários motivos para sentirmos o Porto como único. Juntando o facto de ser uma cidade pequena, e de nos deslocarmos facilmente e rapidamente de um lado para o outro, melhor ainda.

Mas então e aquele bom dia que me diz a menina que me serve o café todos os dias de manhã, e o sorriso de quem me vende o pão na padaria? E as conversas que entabulamos no supermercado ou com a senhora que está de roupão à janela e que nos pede para dar um recado à vizinha; a simpatia do empregado de mesa do restaurante e a atitude prestável daquela pessoa na rua, a quem paramos para pedir uma indicação? E os c$#”g&s que ouvimos da boca da senhora que vende toalhas na ribeira, e quando vamos ao Dragão, mas que nos fazem rir a bom rir?

Continuo de olhos fechados mas a viagem que mentalmente percorro chegou ao fim: não preciso de mais imagens porque a resposta vem-me da alma: o melhor que o Porto tem são as pessoas, as pessoas que lhe dão vida: que empreendem, que dinamizam, que choram e que riem, que lutam, que vivem. E se uma cidade é toda uma envolvente de razões que possa ter enumerado acima, como lugares, vistas, gastronomia, nada disso faz sentido sem esta componente humana que inevitavelmente também faz parte da fotografia.

Texto : Paula Calheiros