A sua vida dava um filme, e estas linhas são muito curtas para contar tudo. Jornalista, escritor e artista plástico, qual dos três melhor, deixo ao vosso critério. Polémico, e sem papas na língua, passou grande parte da juventude por terras Gaulesas e foi com o nascimento do filho David que assentou alicerces no Porto. Hoje, o seu trabalho já está em três museus. O da Red Light District com três obras, eleva o nome de Portugal além fronteiras. Entre portas, foi escolhido para retratar o nosso Cristiano Ronaldo e o trabalho está exposto no seu Museu.
Le Cool – Foi com o Jornalismo que foste parar a França. Queres contar um pouco esse período?
Marinho Neves - Era um período controverso (anos 60) e um desentendimento com o meu pai fez com que partisse à aventura como o fizeram nessa década milhares de jovens portugueses. Aprendi cedo a governar-me sozinho, a assumir responsabilidades e passei por experiências inéditas. Foi aí que assumi o jornalismo como repórter fotográfico. Só mais tarde, já em Portugal, passei para a escrita e passei pelos maiores órgãos de Comunicação Social, notabilizando-me no jornalismo de investigação. Escrevi o primeiro livro em Portugal sobre futebol, em 1996 e foi um êxito. Mais de 100 mil exemplares vendidos.
LC – Achas que à semelhança da sua própria experiência, devíamos aprender lá fora para implementar cá dentro?
MN - Penso que não aprendi muito lá fora. Nós somos profissionais exemplares em qualquer parte do mundo. Só há mau profissionalismo em Portugal, não por incompetência dos nosso trabalhadores, mas porque vivemos num país de “cunhas” e quem não tem de se esforçar para vencer na vida normalmente torna-se num calaceiro e incompetente. A diferença que noto, mesmo agora entre o mercado de emprego em Portugal e estrangeiro, reside sobretudo na grande abertura de oportunidades que nos oferecem no estrangeiro, porque lá aposta-se na qualidade, conhecimento e não no compadrio.
LC - Um pincel numa mão e uma caneta na outra? Ou ambos?
MN - Agora é só o pincel ou espátula na mão, porque de caneta, só mesmo no Facebook. O sonho de ser artista plástico já vem dos meus tempos de Paris, mas como tinha de ganhar dinheiro para viver fui obrigado a fazer um desvio para a fotografia. A oportunidade surgiu quando finalmente me reformei e resolvi realizar o meu antigo sonho. O meu filho seguiu os meus passos e aterrou na Holanda, bastando-lhe meia dúzia de meses para se afirmar neste país. Como começou a viver com uma holandesa que é professora na Universidade de Belas Artes Willem Kooning em Roterdão acabei por deixar despertar o “bichinho” da pintura. Tirei um curso de formação em Roterdão e de repente vejo a minha arte a ser apreciada não só por grandes artistas como nas exposições que vou fazendo tanto em Portugal como no estrangeiro. Comecei há 4 anos e já tenho trabalhos em 3 museus. 2 em Portugal e um em Amesterdão. Tudo isto para além de ter sido escolhido para retratar o nosso Cristiano Ronaldo com trabalho exposto no seu Museu no Funchal.
LC – O que pensas destas novas gerações de artistas que estão a inundar as nossas galerias?
MN - Há gente muito boa a pintar e com ideias novas, mas a arte é difícil de entender. Ou tens nome e vendes qualquer merda, ou fazes coisas deslumbrantes e como não tens nome, ninguém valoriza o teu trabalho. Eu tive a sorte de ser conhecido como jornalista e isso abriu-me muitas portas. Facilitou-me a vida.
LC – Conta-nos uma história que pouca gente saiba…
MN – Em 1999, fui contratado pelo Sporting como conselheiro do presidente. A minha missão era mostra-lhe como tudo se movimentava nos corredores do futebol, nomeadamente no campo da corrupção. Estive lá 6 anos e ajudei o clube a ganhar 6 titulos: 2 campeonatos nacionais, 2 Taça de Portugal e 2 Supertaças. O pior foi quando comecei a notar que havia gente dentro do clube que não estava a ser séria e comecei então a investigar os próprios dirigentes do Sporting e descobri que uma grande parte deles tinham um esquema montado onde ganhavam fortunas com a compra e venda de jogadores. Quando alertei o presidente para esse facto e ele tomou algumas medidas, não aguentamos mais de 6 meses no clube. A força da corrupção foi superior à nossa, apesar dele ser presidente.
LC – É verdade que já tens obras em museus por cá e além fronteiras?
MN – Como já disse atrás, tenho trabalhos em 3 Museus. 1 no Museu Carmen Miranda no Marco de Canaveses, outro no Museu do Cristiano Ronaldo no funchal e um na Holanda, em Amesterdão no Museu de Red Light District, para além de já ter vendido muitas dezenas de telas nas muitas exposições que já fiz.
LC – Como está a ser este ano? Já há próxima exposição?
MN – Tive um início de ano com muito trabalho e muitas exposições. Fui convidado para fazer uma exposição que foi integrada nas Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e na qual vendi quase todas as obras. Agora tenho de passar por um tempo de reflexão e depois preparar a vinda do Outono com novas exposições.
LC – Se pudesses mudar alguma coisa por cá, o que farias?
MN - Tentava fazer entender aos políticos que este é o país onde eles e as suas famílias vivem e vão viver e que deviam direccionar as suas vaidades para o orgulho de ser português.
Entrevista por : David Magalhães